Um pretenso suicida interrompeu seu derradeiro ato ao ouvir a voz do homem.
— O que você está fazendo?!
Indeciso e agarrando-se, talvez, à última esperança de vida que lhe restava, respondeu:
— Vou me matar... aliviar o sofrimento desta vida e cumprir o meu destino no Além.
— E qual você pensa ser seu destino no Além?
— A danação eterna!
— Não é destino muito cruel para alguém tão jovem? O que você fez de tão grave para merecer semelhante castigo?
— Matei! Eu matei um homem. Cometi um dos pecados capitais e devo, por isso, arder pela eternidade no fogo do inferno. Não é este o castigo dos pecadores?
— Quem te disse isso? — indagou, perplexo, o homem.
— Como “quem”?! Ora, todos sabemos; aprendemos desde pequenos na Igreja, no catecismo, nos livros religiosos e mesmo em casa.
Pensando por alguns momentos, o homem falou:
— Meu filho, isso é tão verdade quanto a certeza de se ir para o Céu comprando-se indulgências, como se fazia na Idade Média. Você acredita em Deus, não é mesmo?
Espantado com a pergunta, o jovem respondeu:
— Acredito, sim, e é por Ele ser justo que eu vou me danar pela eternidade. Ele disse para não matar e eu matei. Sua ira e Sua justiça deverão agir sobre mim agora.
Sorrindo um sorriso de discordância e de benevolência, o homem afirmou:
— Deus não tem ódio de Seus filhos, mas fará justiça. Prestou atenção a essa palavra — “justiça”? Você, tão jovem e imaturo, e talvez por essa razão tenha falhado e cometido um crime; você acha justo um ato realizado num instante de insanidade, um instante que é um ponto invisível no cronômetro da eternidade...; um ato do qual você parece estar profundamente arrependido de ter cometido...; você acha justo ser castigado com a danação eterna? Isso não me parece justiça, e Deus É justo. Pense no que eu te disse, julgue por si e tome a atitude que julgar mais correta.
Dizendo isso, o homem virou-se e seguiu seu caminho.
O jovem recuou da beira da ponte e partiu para a vida.

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