Um pobre cavalo tinha sido tão maltratado e explorado por seu dono que, certo dia, caiu morto em plena rua. O homem sem compaixão desatou os nós que prendiam sua carroça ao cavalo e saiu blasfemando contra o animal, deixando-o estendido no mesmo local em que caíra.
As pessoas que passavam, olhavam curiosamente para o cavalo morto, mas sem tomarem nenhuma providência. Os dias também foram passando e a carcaça do animal foi entrando em decomposição, atraindo inúmeros insetos e exalando forte odor.
Homens, mulheres e crianças, enojados pela cena, desviavam seus olhares e teciam os mais diversos comentários.
Um filantropo, alterando seu caminho para evitar o local, exclamou:
— Oh, mas que cheiro horrível! — e partiu.
Uma beata, voltando da Igreja após suas orações diárias, disse, inconformada:
— Como Deus pode permitir que uma cena dessas se apresente aos nossos olhos?! — e também partiu.
E assim, outras tantas pessoas pelo pobre animal passaram e lá o deixaram.
Um homem humilde, que por sua roupa deixava transparecer toda a sua simplicidade, ao avistar o animal, exclamou:
— Era um bom animal. Que belos dentes ele tinha!
Sozinho, fez uma cova num terreno baldio próximo, onde enterrou o cavalo.
Os indivíduos que presenciaram essa atitude, olhavam espantados para o homem. Alguém, ao vê-lo seguir seu caminho, ainda falou:
— Coitado, deve ser louco!

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